Vinicius, Dorival Caymmi y Astor Piazzolla. Buenos Aires, noviembre 1969

Vinicius y Dorival, show en el Embassy, Buenos Aires. Mi reino por oír a Piazzolla.

Llevaba camisa azul. El hombre, al que el mendocino Edgardo Suárez minutos antes había presentado, al público reunido en el Embassy de Buenos Aires, llevaba puesta una camisa azul. No tardó en sentarse detrás de un escritorio. Y mucho menos tiempo tardó en arrimarse un mozo del Embassy hasta ese escritorio: sirvió una medida de whisky, con hielo, y antes de irse dejó la botella bien a la mano del hombre que llevaba camisa azul.  Leyó una carta, ese hombre, que estaba escrita para otro hombre, un tal Dorival Caymmi:
“Cuando estemos aquí trabajando por vos, tú, mamarracho, debes estar durmiendo un sueño tranquilo en tu casa de Bahía”.
Vinicius de Moraes, el de camisa azul, Vinicius de Moraes, “el poeta brasileño, el sucesor de Carlos Drumond de Andrade, el ex diplomático, el gustador de licores y jóvenes mujeres, el casi playboy creador del bossa nova”, dice la crónica de aquella noche de noviembre de 1969.
“Ahora vamos a empezar con nuestro querido Carlos Jobim, en una síntesis informal de lo que el moderno movimiento de la música popular brasieña; puedes dormir tranquilo su siesta, tranquilo en tu vieja Bahía, viejo Caymmi. Tu hijo está a mi lado para que juntos cantemos tus canciones y las nuestras”.
El viejo Caymmi no estaba ni tan lejos –esa noche lo acompañaba a Vinicius con su guitarra, allí en el Embassy, cuyo dueño era el mendocino Edgardo Suárez- y no era tan viejo ni mucho menos –tenía 55 años-.
“Los admiradores querían arrastrar a Vinicius y a Caymmi a diversas fiestas y él se empecinaba en ir a escuchar a su amigo Astor Piazzolla”. Vinicius se ha “convertido en un mito de buena ley”. 

Vinicius, vaso en mano, Astor, faso en boca.

El cronista apunta que su tiempo “es fluido y domina el relax para cantar y tomar tragos y conversar con la gente”. Aquella noche de noviembre, en el Embassy, el show terminó con un poema de Vinicius, dedicado a su hijo Pedro:
Como eu nunca lutei para deixar-te nada além do amanhã indispensável: um quintal de terra verde onde corra, quem sabe, um córrego pensativo; e nessa terra, um teto simples onde possas ocultar a terrível herança que te deixou teu pai apaixonado - a insensatez de um coração constantemente apaixonado.
E porque te fiz com o meu sêmen homem entre os homens, e te quisera para sempre escravo do dever de zelar por esse alqueire, não porque seja meu, mas porque foi plantado com os frutos da minha mais dolorosa poesia.
Da mesma forma que eu, muitas noite, me debrucei sobre o teu berço e verti sobre teu pequenino corpo adormecido as minhas mais indefesas lágrimas de amor, e pedi a todas as divindades que cravassem na minha carne as farpas feitas para a tua.
E porque vivemos tanto tempo juntos e tanto tempo separados, e o que o convívio criou nunca a ausência pôde destruir.
Assim como eu creio em ti porque nasceste do amor e cresceste no âmago de mim como uma árvore dentro de outra, e te alimentaste de minhas vísceras, e ao te fazeres homem rompeste meu alburno e estiraste os braços para um futuro em que acreditei acima de tudo.
E sendo que reconheço nos teus pés os pés do menino que eu fui um dia, em frente ao mar; e na aspereza de tuas plantas as grandes pedras que grimpei e os altos troncos que subi; em tuas palmas as queimaduras do Infinito que procurei como um louco tocar.
Porque tua barba vem da minha barba, e o teu sexo do meu sexo, e há em ti a semente da morte criada por minha vida.
E minha vida, mais que ser um templo, é uma caverna interminável, em cujo recesso esconde-se um tesouro que me foi legado por meu pai, mas cujo esconderijo eu nunca encontrei, e cuja descoberta ora te peço.
Como as amplas estradas da mocidade se transformaram nestas estreitas veredas da madureza, e o Sol que se põe atrás de mim alonga a minha sombra como uma seta em direção ao tenebroso Norte.
E a Morte me espera em algum lugar oculta, e eu não quero ter medo de ir ao seu inesperado encontro.
Por isso que eu chorei tantas lágrimas para que não precisasse chorar, sem saber que criava um mar de pranto em cujos vórtices te haverias também de perder.
E amordacei minha boca para que não gritasses e ceguei meus olhos para que não visses; e quanto mais amordaçado, mais gritavas; e quanto mais cego, mais vias.
Porque a poesia foi para mim uma mulher cruel em cujos braços me abandonei sem remissão, sem sequer pedir perdão a todas as mulheres que por ela abandonei.
E assim como sei que toda a minha vida foi uma luta para que ninguém tivesse mais que lutar:
Assim é o canto que te quero cantar, Pedro meu filho...”.

El hombre de camisa azul siguió la noche porteña, vestido con la misma camisa, en busca de su amigo, Astor Piazzolla.
Amelita Baltar cuenta cómo era la relación entre ambos, en ocasión de la presentación de María de Buenos Aires: "Astor se puso muy nervioso. Decía ¡me están puteando, me están puteando! Ya en camarines, alguien acercó a Elis Regina y Vinicius de Moraes, que habían estado viendo la obra. Vinicius le dio un abrazo: ¡Filho da puta, cómo haces esa música maravilhosa!”.

Comentarios

Lo más visto en la semana

Twitter