Arte contemporânea de Buenos Aires via Sampa, proposta da Galeria Logo



A nova exposição da galeria LOGO tem como nome, em espanhol, PREGUNTAME COMO! (pergunte-me como!). “Existe uma necessidade de conexão humana nos bastidores da arte, presente nos artistas que buscam conhecer outros artistas, nos galeristas que os representam e nos colecionadores que compram suas obras. Uma relação fundamental para pensar produções artísticas que podem até aparentar desconexas visualmente, mas emergem de um mesmo eixo humano”, explica o curador Tristan Rault.
PREGUNTAME COMO! conta com mais de 160 obras em diferentes técnicas, tamanhos e suportes, incluindo instalações. Entre elas estão pequenas e obscuras pinturas a óleo, desenhos em grafite sobre papel com quase 3m de altura e uma composição monumental de 54 pinturas sobre serigrafia. Entre os sete convidados, nomes reconhecidos internacionalmente, como América Sanchez, que tem obras no acervo do MoMA em Nova York. Mas também figuram artistas que ainda estão fora do radar do mundo da arte, como o taiwanês Lin Yi-Hsuan, cuja pintura pode ser vista na capa do novo trabalho da banda independente de folktronica Los Hnos Turdera.
A exposição forma um círculo onde cada artista conhece pelo menos um dos outros artistas pessoalmente. São criadores visuais que convergiram em Buenos Aires ou se espalharam pelo mundo a partir de lá, todos eles de origens, idades e com produções distintas. Mesmo apresentando projetos independentes, o simples fato de existirem laços entre os participantes dessa coletiva levanta questões sobre as relações pessoais no mundo da arte, assim como sobre as afinidades estéticas entre eles.



Artistas:
Nicolás Sobrero nasceu na cidade de Buenos Aires, onde vive até hoje. Jornalista de formação, escreve sobre arte para diferentes veículos enquanto mantém a carreira de artista, tendo exposto suas obras pela Argentina, Estados Unidos e Áustria. Seu trabalho encontra pontos em comum com as pesquisas caligráficas de Nick Blinko e de León Ferrari, com o design de cartaz de circo, com as imagens de vídeo em “tilt”, com o construtivismo uruguaio e até mesmo com as fotomontagems de David Hockney. Uma produção que faz pensar tanto no acúmulo de influências, quanto de formas gráficas, configurando um corpo de obras caótico, mas de autoria reconhecível. 
LIN YI-HSUAN (1985, I-lan, Taiwan). Depois de ter estudado arte por 10 anos em Taiwan, Hsuan passou a se inspirar nos trabalhos de seus alunos: crianças de quatro a oito anos de idade. Suas obras são marcadas pela desconstrução de todos esses anos de aprendizagem acadêmica e abordam desde cenas ordinárias até lendas milenares, sempre com uma poética visual característica. O gosto pelas escolhas inusitadas o levou à Argentina, aonde chegou há um ano, por recomendação de um amigo que conheceu pelo Flickr (comunidade de compartilhamento de fotos na Internet), e está sendo descoberto como artista. Hsuan também experimentou e foi influenciado por outras culturas, com passagens por países como China, Estados Unidos e Honduras.
MARTÍN LEGÓN (1978, Buenos Aires, Argentina). Depois de estudar literatura por quatro anos, Martín Legón foi selecionado para uma das bolsas artísticas mais prestigiosas da Argentina: a Beca Kuitca. Também foi membro fundador da renomada galeria Appetite (junto com Daniela Luna, Nicanor Aráoz e Galindo, entre outros). Portanto, fica impossível passar por uma lista dos novos talentos da arte argentina sem encontrar Legón no meio. Tem exposto individualmente desde 2003, com passagens pela Inglaterra, Espanha, Estados Unidos e Brasil. Sua produção atual varia entre instalações de visual hermético ou pinturas sombrias e intimistas.
GUSTAVO EANDI (1981, Mar del Plata, Argentina). Em sua Mar del Plata natal, foi sócio do estúdio de design TRImarchi e Pacheco, organizador dos espaços Disfrutar Muchísimo e das exposições do evento TMDG. Em seguida Gustavo se mudou para Barcelona, onde atua até hoje como um dos principais ilustradores do selo musical Stones Throw Records e colabora com uma grande quantidade de projetos, publicações e clientes. Ao longo dessa jornada, trabalhou com nomes como Damo Suzuki, Madlib, J.Rocc, Stüssy Japan, Adam Freeland e Smash FX, espalhando sua estética pelos mais variados meios, sempre dentro do espectro cult. Mergulhado em um visual obcecado e brutamente delicado, o amor pelo pesado e pelo obscuro tem formado um novo sentido na obra do Eandi, que se alinha às vertentes lo-fi do design de cartazes, à estética da no-wave, às logomarcas dos anos 80 e à iconografia de diferentes seitas.
ANDRÉS BRUCK (1986, Buenos Aires, Argentina). Formado no Enerc e residente do Instituto Torcuato DiTella – duas das instituições de ensino artístico mais experimentais da Argentina – Andrés Bruck conseguiu a admiração e apoio de grandes nomes da arte contemporânea argentina, como seu ex-professor Jorge Macchi. A linha torta marca um estilo que o levou a expor em contextos diferentes como o Babafestival, de Roma, e a feira de arte ArteBA, de Buenos Aires. Com três exposições individuais em seu currículo, uma delas na prestigiada galeria Alberto Sendrós, Andrés continua explorando as facetas mais mundanas e estranhas de uma vida pós-moderna.
AMÉRICA SANCHEZ (1939, Buenos Aires, Argentina). Designer gráfico de profissão, Juan Carlos Pérez Sánchez sempre manteve sua criação artística em paralelo, marcada pelas fotomontagens e pela observação das expressões gráficas urbanas. Chegado de Buenos Aires na Barcelona pós-guerra de 1956, com 24 anos, decidiu mudar o seu nome (adotando o nome da sua mãe: América) e impulsionar a reestruturação do design gráfico espanhol. Assim, conseguiu ter trabalhos adquiridos pela coleção do MoMA de Nova York, além de criar boa parte do que existe de mais relevante no design gráfico de Barcelona, como a logomarca dos Jogos Olímpicos de 1992 e as identidades visuais da Vinçon e de todos os táxis da cidade, entre tantos outros feitos. O reconhecimento internacional e a constante retrospectiva de seu trabalho mostram que a sua arte, quase alinhada com a art brut, nunca esteve separada da sua profissão.
PAUL LOUBET (1987, Béziers, França). Com 24 anos e várias participações em sites ou em impressos, de publicações próprias a nomes como It’s Nice That, Clark e Beautiful Decay, Paul Loubet é um jovem francês que não cabe mais na definição “ilustrador”. Com um estilo meticulosamente despretensioso e fortemente autoral, ele se vale de referências normalmente mal vistas, como os desenhos amadores de pré-adolescentes dos anos 80 e começo dos 90, da cultura “hyper-rad” do surf e do skate, dos personagens icônicos dos graffitis toscos e do riquíssimo universo dos quadrinhos experimentais da Europa. Esse cocktail de ingredientes baratos, mas profundamente pesquisados, resulta em um conjunto de obras extremamente refrescante no panorama da arte contemporânea, provocando risadas e, talvez, indigestões.

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