Artistas discutem natureza, magia e política no 18º Videobrasil
Performance de Luiz de Abreu, O Samba do Crioulo Doido |
Artistas discutem natureza, magia e política no último encontro da sexta-feira no encontro Natureza Mágica, parte do Foco 2, Vetores e Inflexões, do 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil. Os artistas brasileiros Ayrson Heráclito e Roberto Winter, junto com Bakary Diallo, do Mali, discutiram a questão da representação da natureza e da magia na produção artística, sobretudo na construção de mundos ficcionais.
Babary Diallo conta que em sua cultura “natureza e magia formam um conjunto. O homem representa sua alma numa árvore, depois num animal e, por último, numa pessoa”, conta. “O mundo mental e a crença caminham juntos. É assim que eu vejo a magia.” Para ele, a terminologia pejorativa da superstição e da crença vem da cultura ocidental do Norte. A crença, ele afirma, é parte fundamental para a produção artística e, no mundo de hoje, magia e arte devem se unir, integrando-se à tecnologia, que ele definiu como “uma mulher virgem”.
Roberto Winter, citando o autor americano Arthur C. Clarke, afirmou que “toda tecnologia avançada é indistinguível da magia” e cita o exemplo da economia no mundo ocidental. “Ela é uma tecnologia tão avançada que algumas pessoas a confundem com magia”, afirma. “A maioria das pessoas não entende como se deu a crise de 2008. O que são derivativos (por exemplo).”
Ele disse também que o ato da magia, em suas diversas concepções, está ligado ao ato da palavra. Apenas a palavra é capaz de tornar algo – uma crença, por exemplo – em realidade material e que a palavra, e a crença, estão muito conectadas com questões da nossa realidade. “Quando um juiz diz que alguém está condenado à cadeira elétrica”, mesmo antes da pena ser executada, é como se essa pessoa já estivesse morta.
O artista e professor Ayrson Heráclito, que nasceu em Macaúba, interior da Bahia, e depois mudou-se para Salvador, conta que a sua formação cultural e identitárias sempre esteve envolvida entre esses dois mundos – o das ideias e o das crenças da Bahia. “Essa relação da arte e magia sempre existiu, mesmo depois da dessacralização do mundo”.
Quando o assunto é política, Bakary defendeu um aprofundamento da democracia na África. “A nossa democracia está aprisionada, ela não é livre”, afirmou o artista que também deseja uma melhor convivência entre as diversas culturas e realidades. Apesar de concordar com a necessidade do aprimoramento da democracia, inclusive no Brasil, Winter afirmou que, talvez, a convivência harmoniosa entre os povos não seja a solução. “Nos fizeram acreditar que só existe a paz absoluta ou a guerra. Nós precisamos de outras maneiras de enxergar o conflito”, disse.
Agenda
Na sexta-feira à noite, a partir das 20h, na Choperia do Sesc Pompeia, haverá a performance O samba do crioulo doido, de Luiz de Abreu, sobre a discriminação racial e sua incidência no corpo do negro. A performance terá uma reapresentação, no dia 20/11, no Galpão do Sesc Pompeia.
No sábado (9/11), a partir das 11h da manhã, haverá o último encontro do Foco 2, Design, conceito e espaço, sobre o diálogo do design com as narrativas propostas pelas exposições. A mesa tem participação de Celso Longo e Daniel Trench, autores da identidade visual da 18ª edição do festival; dos artistas Angela Detanico e Rafael Lain; dos designeres Kiko Farkas e Bill Martinez. O encontro acontece no Galpão do Sesc Pompeia.
No Cinesesc, a partir das 14h, haverá as exibições dos Programas 6 e 7 do Panoramas do Sul. O primeiro, Ambivalências dos espaços arquitetônicos, trata da arquitetura enquanto personagem para falar das questões mais urgentes das cidades nos dias de hoje. O segundo, Imersões no espaço sociocultural brasileiro, exibirá o filme Domésticas, de Gabriel Mascaro.
Às 16h, também no Cinesesc, haverá a exibição de Desconstrução das narrativas (Programa 8), uma compilação de filmes sobre a construção da narrativa cinematográfica por meio de seu diálogo com outras linguagens, como a música, dança e o documentário.
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